"Entre os efeitos do processo de inflação de títulos escolares e da desvalorização correlativa que, pouco a pouco, obriga todas a classes e frações de classe_ a começar pelos maiores utilizadores da escola__ a intensificar sem cessar sua utilização da escola e a contribuir, assim, por sua vez, para a superprodução de diplomas, o mais importante é, sem dúvida alguma, o conjunto de estratégias que os portadores de diplomas desvalorizados tem acionado para manter sua posição herdada ou obter de seus diplomas o equivalente real ao que estes garantiam num estado anterior da relação entre os diplomas e os cargos. ...A defasagem entre as aspirações que o sistema de ensino produz e as oportunidades que realmente oferece é, numa fase de inflação de diplomas, um fato estrutural que afeta, em diferentes graus segundo a raridade dos respectivos diplomas e segundo sua origem social, o conjunto dos membros de uma geração escolar. Os récem- chegados ao ensino secundário são levados a esperar, só pelo fato de terem tido acesso ao mesmo, o que este proporcionava no tempo em que eram excluídos desse ensino. Tais aspirações que, num outro tempo e para um outro público, eram perfeitamente realistas, de vez que correspondiam a oportunidades objetivas, são frequentemente desementidas de forma mais ou menos rápida, pelos veredictos do mercado escolar ou do mercado de trabalho".
Pierre Bourdieu- Escritos de Educação
Catani, Afrânio e Nogueira, Maria Alice, Vozes, 1998
As palavras escritas pelo sociólogo são tão verdadeiras. O Ensino Médio público está conseguindo acolher mais alunos que em qualquer outro tempo. As faculdades proliferam. Os diplomas proliferam. E, cada vez que um concurso público é aberto, com vagas para ensino médio e salários nada compatíveis com a formação universitária, inscrevem-se números assustadores de diplomados para concorrer às poucas vagas existentes. E os excluídos tornam-se ainda mais excluídos!
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