31.12.04


Será mesmo que uma imagem vale mais que mil palavras? Posted by Hello

A imagem já diz tudo! Posted by Hello

Palavras sobre palavras de Mikhail Bakhtin

As palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios(...) A palavra constitui o meio no qual se produzem lentas acumulações quantitativas de mudanças que ainda não tiveram tempo de adquirir uma nova qualidade ideológica, que ainda não tiveram tempo de engendrar uma forma ideológica nova e acabada. A palavra é capaz de registrar fases transitórias mais íntimas, mais efêmeras das mudanças sociais. (...) Cada época e cada grupo social têm seu repertório de formas de discurso na comunicação sócio-ideológica.(...) A língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta, não no sistema lingüístico abstrato das formas da língua nem no psiquismo individual dos falantes.(1)

(1) Mikhail Bakhtin (Volochínov), Marxismo e filosofia de linguagem, tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira, 2ª edição, Editora Hucitec, São Paulo, 1981, pp.41, 44 e 124.

27.12.04

Saborosas palavras populares...

Certas expressões populares não tem autor, surgem na dinâmica da língua, podem tornar-se moda e permanecerem. Antes da globalização certas expressões populares eram, muitas vezes, bastante regionalistas. Atualmente, com a influência das mídias, um veículo como a televisão, por exemplo, quando determinado ator ou atriz usa certa expressão, é o que basta para que haja o nascimento de uma expressão que logo se torna de domínio público.
Estive pensando em algumas destas expressões que já se tornaram parte da língua de modo que as usamos sem pensar no seu sentido real e, sim, no sentido figurado que lhe foi atribuído.

Cair como um patinho.
Cara de quem comeu e não gostou.

Amarrar a cara.
Catar milho (datilografar com um ou dois dedos, agora, digitar!).
Sair com o rabo entre as pernas.

Bafo de onça.
Dar com os burros n'água.
Bater com a língua nos dentes.
Dormir no ponto.
Não dar o braço a torcer (ou dar).
Dizer cobras e lagartos.

Nem que a vaca tussa!
Ficar de olho, de queixo caído, de boca aberta.
Não dar ponto sem nó.
Pagar o pato.
Quebrar o galho.
Querer sombra e água fresca.
Pular de galho em galho.
Tapar o sol com a peneira.


E tantas outras com sabores populares, sabores decorrentes do uso, sabores....das palavras!

21.12.04

Palavras com sabor amargo


Sabores existem. Mas, diversos sabores
doces, amargos, azedos, agri-doces, apimentados, salgados, mas,
de qualquer modo são sabores.
Minhas palavras saborosas nem sempre
são doces,
muitas vezes amargas,
azedas, tão amargas e azedas
que podem atingir fundo a alma,
a alma de quem tem sentimentos,
percepções, intuições,
e que precisa de alimentos.
Palavras são alimentos para a alma,
e são saborosas, tenham o sabor
com o qual atingem nossos sentimentos,
ainda que, de momentos.
Singularmulher


Entre Parênteses

Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase.Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços o meu pecado de pensar.

Clarice Lispector
Pergunto ao que me resta
de mim a que vêm estas
páginas inúteis
consagradas ao lixo e ao desvio,
perdidas antes de ser
entre os papéis rasgados do destino...
Fernando Pessoa

16.12.04

Imagens e palavras


Outra imagem com palavras saborosas Posted by Hello

Palavras em imagens!


Para refletir Posted by Hello

Minhas palavras saborosas

Uma pequena lista das minhas palavras saborosas:


AmorAmizade
FilhosPai
MãeFamília
PraiaSol
AzulCéu
FelicidadeUtopia
SonhosNatureza


13.12.04

Transição Pós-Moderna

O século XX ficará na história (ou nas histórias) como um século infeliz. Alimentado e treinado pelo pai e pela mãe, o andrógino século XIX, para ser um século prodígio, revelou-se um jovem frágil, dado às maleitas e aos azares,
Aos catorze anos teve uma doença grave que, tal como a tuberculose e a sífilis de então, demorou a curar e deixou para sempre um relógio. E tanto que aos trinta e nove teve uma fortíssima recaída que o privou de gozar a pujança da meia idade. Apesar de dado por clinicamente curado seis anos depois, tem tido desde então uma saúde precária e muitos temem uma terceira recaída, certamente mortal. Uma tal história clínica tem-nos vindo a convencer___ a nós cuja inocência está garantida por não termos escolhido nascer neste século ___ que, em vez de um século prodígio, nos coube um século idiota, dependente dos pais, incapaz de montar casa própria e ter uma vida autônoma.

Com que belas palavras nos brinda Boaventura de Sousa Santos na obra Pela mão de Alice, pg.75, Cortez 2000, para descrever o século XX, suas guerras e tudo o que herdou do século anterior, cuja dependência ainda estamos carregando em vários campos, inclusive na Educação. O Sabor é um pouco amargo, mas, nem por isso elas deixam de ter Sabor.

12.12.04

A palavra: Pablo Neruda

Um pouco mais de palavras. Sempre palavras com sabor. Agora, palavras sobre a palavra, ditas, escritas por Neruda.

... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.
Do livro "Confesso que Vivi — Memórias", Difel — Difusão Editorial — Rio de Janeiro, 1978, pág. 51

10.12.04

Ando pensando.....

Na minha dificuldade em transmitir meus pensamentos (ou será uma dificuldade mesmo de pensar -diferentemente?), seja através da palavra falada ou escrita. As tentativas para escrever "bem" são doloridas, mas também frutíferas, pois todas as tentativas vão sendo somadas, e passam a fazer parte de minha trajetória pessoal, auxiliando-me a melhorar a minha escrita, criando um estilo particular e grupal...
Pelo jeito, essa síndrome também acomete grandes autores.

Sobre a Escrita...

Clarice Lispector

Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.
Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.
Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.
Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.
Simplesmente não há palavras.
O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.
Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.
Simplesmente as palavras do homem.

Texto extraído do site "Sobrado".

7.12.04

Ser Humano

“O ser humano não é humano”.
O ser humano TORNA-SE humano. Pensar que o ser humano demonstra um tipo de pensamento que tenta definir, fixar e essencializar a idéia que se tem de ser humano.Há um processo para nos tornarmos humanos. O ser humano torna-se humano pela educação. Educação aqui entendida como um processo amplo, aprendida em diferentes “lugares” sociais...
Ser humano não é estar pronto, porque nunca se está acabado, completo. Se está em constante formação.Ser humano é processo.
Quem constrói os significados atribuídos a um sujeito particular é a sua historicidade, o seu modo de viver consigo e com os outros.

Roland Barthes disse em uma aula inaugural:

"Eu tento, portanto, permitir-me ser possuído pela força de toda a vida viva: o esquecimento..."
Continuando a temática trancrevo novamente Rubem Alves:
"Há um tempo quando se ensina aquilo que se sabe.
Mas há um tempo que se segue quando se ensina aquilo que não se sabe.
Talvez agora chegue o tempo de outra experiência: a de desaprender, quando a gente se permite estar à merce das transformações imprevisíveis que o esquecimento impõe à sedimentação de todos os tipos de conhecimentos, de culturas, de crenças....

nenhum poder,
uma pitada de conhecimento,
uma pitada de sabedoria,
e o máximo possível de Sabor..."
Estou me aplicando e me permitindo ser possuída cada vez pela força viva da vida: o esquecimento, o desaprender, o abrir os olhos para ver tudo o que, como se fosse cega, nunca me permiti ver.

6.12.04

Um começo de conversa

Citando Rubem Alves

"Lembrei-me também das palavras de Alberto Caiero:

'Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar
que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu...

É preciso esquecer a fim de lembrar,
É preciso desaprender a fim de aprender de novo... ' "

Assim, tentarei desaprender a escrever de modo técnico, de modo lógico e não emocional. Desaprender a não deixar transparecer emoções, esquecer o gelo dos escritos para o mestrado, o sem sabor dos textos escritos para publicação.

Quem sabe eu consigo?